Descoberta em 1894 por mineiros em um pântano na região de Sverdlovsk, nos montes Urais da Rússia, a escultura conhecida como Ídolo Shigir pode ter sido criada há mais de 12.000 anos atrás, o que a torna duas vezes mais antiga que as pirâmides egípcias.

O ídolo também possui símbolos gravados, semelhantes aos encontrados nas ruínas do antigo templo de Göbekli Tepe, na Turquia, o que pode significar que este é o texto mais antigo conhecido hoje.

 

Inicialmente a peça não foi tratada com muita importância por ter sido esculpida em madeira, um material que pode se degradar facilmente com o passar dos anos, o que levou os pesquisadores a acreditar que tratava-se de um artefato recente, mas e a escultura foi preservada graças às propriedades antimicrobianas da turfa do pântano onde foi encontrada, o que lhe permitiu sobreviver desde o fim da última era do gelo.

No final da década de 1990, uma datação por radiocarbono identificou o ídolo como tendo aproximadamente 9.000 anos, embora em 2021, uma técnica mais precisa, conhecida como datação por espectrometria de massa, descobriu que sua idade verdadeira é de pelo menos 12.100 anos, segundo arqueólogos da Universidade de Gottingen, na Alemanha, e do Instituto de Arqueologia RAS e do Museu Regional de Sverdlovsk, ambos na Rússia.

Thomas Terberger, um dos autores do estudo, disse que a escultura foi feita em um período onde ocorreram grandes mudanças climáticas, quando as florestas começaram a se espalhar pela Eurásia glacial mais quente.

Ídolo Shigir

Pesquisadores, incluindo Graham Hancock, afirmaram que a nova datação do ídolo pode se encaixar na hipótese de “Dryas Recente”, postulando que um cometa ou grande meteoro atingiu a Terra há cerca de 12.900 anos, criando uma mini era do gelo de 1.200 anos.

Hancock acredita que esse impacto apagou as evidências de civilizações mais antigas e avançadas que podem ter existido naquela época.

Os pesquisadores também determinaram que os traços geométricos presentes na escultura são semelhantes aos padrões já vistos em outras peças de pedra no templo Göbekli Tepe, na Turquia, que possuem uma idade semelhante ao Ídolo Shigir.

Entretanto, ainda não está claro se o Ídolo Shigir tinha alguma finalidade, embora as gravuras presentes nas peças aparentam conter um significado, talvez mais espiritual, como a relação entre o céu e a Terra ou de espíritos ancestrais, conforme explica Svetlana Savchenko, curadora do artefato e coautora da pesquisa.

“É uma das esculturas mais originais já encontradas, não há nada igual no mundo. É muito vivo e muito complicado ao mesmo tempo. A estátua inteira está coberta com informações criptografadas. As pessoas estavam passando conhecimento com a ajuda do ídolo”, acrescentou o professor Zhilin, do Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências.

Mensagem Oculta

Inscrições no Ídolo Shigir.

Por enquanto, não há consenso sobre o que representam as marcas que cobrem a estátua de 5,3 metros de altura. Alguns especialistas acreditam que os entalhes da estátua podem ser hieróglifos contendo informações criptografadas que descrevem o mundo da época. Um total de oito rostos foram identificados, além de entalhes e gravuras.

Uma das dificuldades de interpretação desse código é a “polissemia”, sendo que a mesma marca pode ter mais de um significado, o que multiplica o número de interpretações.

De acordo com dados etnográficos, uma linha reta poderia ser interpretada como a terra ou o horizonte, mas também a fronteira entre o céu e a terra ou a terra e a água, entre outros significados.

Outros pesquisadores sugeriram a possibilidade de que ídolo poderia representar um mapa, onde as linhas indicariam destinos ou dias de marcha, e as setas podem ser interpretadas como direções, obstáculos ou sinais geográficos, como rios ou montanhas.

No entanto, esses mesmos sinais podem ser lidos de um ponto de vista mágico como um caminho iniciático.

Os especialistas que estudam o ídolo chegaram à conclusão unânime de que as mensagens gravadas no ídolo permanecem “um completo mistério para o homem moderno”.

O ídolo está atualmente em exibição no Museu Regional de Sverdlovsk em Yekaterinburg, na Rússia.