O conceito da robótica é atual e refere-se aos avanços tecnológicos da nossa era, porém existem histórias sobre robôs na antiguidade que são muito enigmáticas e, ao que tudo indica, a humanidade já havia sido apresentada à inteligência artificial e lidava com máquinas bem antes de alguém pensar na expressão “ficção científica”.

A criação de seres autômatos é vastamente narrada na Antiguidade e retratam a criação de seres fantásticos, algumas vezes servindo como protetores e outras como humanos perfeitos, mas desalmados.

 

Por mais implausível que possa parecer, as descrições de seres feitos à imagem do homem e capazes de realizar tarefas complexas datam de muito antes de Cristo.

Para Adrienne Mayor, historiadora da Ciência na Universidade de Stanford, os antigos deuses gregos não criaram apenas vida humana, mas também vida artificial, fazendo uso de tecnologia, ferramentas e métodos.

“As ideias de criar vidas artificiais e robôs são muito antigas, inicialmente, esses dispositivos autômatos eram feitos e imaginados por deuses no Monte Olimpo, longe do reino humano. Portanto, eram benignos, interessantes e até mesmo divertidos e inofensivos. Acontece que, quando Hefesto, o deus da metalurgia, e Zeus, o rei dos deuses, começaram a mandar esses robôs para o plano mortal para interagir com os humanos, passamos a ter muito caos e destruição”, diz Mayor.

Mas os autômatos não aparecem somente na cultura grega antiga, vários textos da Suméria, China e Índia sugerem que essas culturas do passado estavam familiarizadas com o conceito de robôs e inteligência artificial.

Humbaba, o Guardião da Floresta de Cedros

Escultura da cabeça de Humbaba do Período Babilônico.

Um dos registros mais antigos da descrição de um robô pode ser encontrada na “Epopéia de Gilgamesh”, um poema épico da Mesopotâmia e uma das primeiras obras conhecidas da literatura mundial.

A história surgiu, por escrito, em torno de 2.000 a.C., mas Gilgamesh é descrito como um rei sumério e o fundador da cidade de Uruk, que governou a região por volta do ano 2.700 a.C.

A epopéia narra as aventuras do lendário herói sumério junto com seu amigo Enkidu em busca da imortalidade, e enquanto viajavam para a Floresta de Cedros, no Monte Líbano, Gilgamesh e Enkidu encontram e derrotam Humbaba, um autômato gigantesco com rosto semelhante ao de um leão, que cuspia fogo e fora enviado pelo deus Anunnaki Enlil para ser o guardião da floresta, que é descrita como a “morada dos deuses”.

Talos, o Gigante de Bronze

A famosa história grega de Jasão e os Argonautas narra sobre um gigante de bronze invulnerável chamado Talos, que guardava a ilha de Creta.

Sua função era circular a ilha três vezes por dia e afastar visitantes indesejados, jogando enormes pedras em seus navios ou se conseguissem chegar em terra, Talos superaquecia seu corpo, incendiando os inimigos.

Algumas fontes citam que o criador de Talos foi o próprio Zeus ou um dos inventores, Hefesto ou Dédalo, por ordem de Zeus, como um presente para Minos, o rei de Creta, para defender a ilha e seu povo. Outros autores da antiguidade contam que Talos foi primeiramente um presente de Zeus para a princesa fenícia Europa, para proteger ela e seus filhos e que mais tarde ela o deu para Minos.

Talos possuía uma única veia partindo de seu pescoço e descendo até os tornozelos que carregava seu sangue vital, feito de metal líquido, e em cada tornozelo havia uma tampa aparafusada para evitar que o metal líquido vazasse.

Após proteger Creta por muitos anos ele foi derrotado pelos Argonautas, segundo alguns devido às artes mágicas de Medeia que teria enfeitiçado o gigante de bronze, persuadindo-o a retirar as tampas dos tornozelos deixando o metal líquido vazar, e segundo outros por uma flecha disparada por Peante neste seu único ponto fraco.

O Autômato do Rei Mu

Na China antiga, um intrigante relato descrito nos textos Liezi, do século 3 a.C., fala sobre um autômato em tamanho natural capaz de realizar atividades incríveis, como cantar, caminhar e que teria sido construido por volta do ano 1.000 a.C. pelo engenheiro e artesão Yan Shi como um presente para o rei Mu de Zhou:

“O rei observou a figura deslumbrado. Ela se mexia a passos rápidos, movendo sua cabeça para cima e para baixo, fazendo com que todos a confundissem com um ser humano real. O artesão tocou seu queixo, e a figura então começou a cantar de maneira perfeita. Ele tocou sua mão, e a máquina começou a posar, mantendo um ritmo perfeito entre as duas tarefas. Quando a apresentação estava próxima ao fim, o robô piscou seu olho e flertou com as moças da plateia. Neste momento, o rei indignou-se e teria executado Yan Shi imediatamente, se este, em medo mortal, não tivesse instantaneamente desmontado o robô para mostrar o que ele realmente era. A máquina mostrou não ser nada além de uma junção de couro, madeira, cola e laquê, colorido em azul, vermelho branco e preto. Examinando em detalhes, o rei achou órgãos internos completos, fígado, coração, rins, pulmões, estômago e intestinos e ao redor destes, músculos, ossos e membros com suas articulações, dentes, pele e cabelo, todos artificiais. O rei então retirou o coração e viu que a boca não podia mais falar; retirou o fígado e viu que os olhos não podiam mais ver; retirou os rins e viu que as pernas já não mais se locomoviam. O rei, assim, ficou encantado”.

Outros relatos chineses similares sobre autômatos com capacidade de voar foram escritos no século 5 a.C. pelo filósofo Mozi e seu contemporâneo Lu Ban, que teria projetado pássaros de madeira artificiais que podiam efetivamente voar, de acordo com o Han Fei Zi e outros textos.

Os Guardas de Ajatasatru

Escultura das relíquias de Buda.

Maravilhas tecnológicas, como carruagens voadoras e entidades animadas, também aparecem frequentemente nos Vedas, os épicos sagrados hindus, e uma das narrativas mais enigmáticas da Índia conta sobre os robôs que protegiam as relíquias de Buda.

A história se passa na época do rei Ajatasatru, que reinou de 492 a 460 a.C. e era conhecido por desenvolver novas invenções militares, como catapultas poderosas e uma carruagem de guerra mecanizada com lâminas giratórias.

Quando Buda morreu, o rei Ajatasatru ficou encarregado de defender seus preciosos restos mortais e os escondeu em uma câmara subterrânea perto de Pataliputta, no nordeste da Índia. A câmara era protegida pelos “guardas de Ajatasatru” que eram criaturas mecânicas extraordinárias.

Na Índia, autômatos ou seres mecânicos eram criações de Visvakarman, o deus engenheiro hindu, podiam se mover por conta própria e eram chamados em sânscrito de “bhuta vahana yanta” ou “máquinas de movimento espiritual”.

De acordo com a história, foi predito que os guardas de Ajatasatru permaneceriam em serviço até que um futuro rei distribuísse as relíquias de Buda por todo o reino.

Dois séculos depois, o rei Asoka governou o poderoso Império Mauryan em Pataliputta entre os anos de 273 e 232 a.C. e construiu muitos templos para consagrar as relíquias escondidas de Buda em seu vasto reino, procurando-as até descobrir a câmara subterrânea guardada pelos temidos guerreiros androides. Então, batalhas violentas ocorreram entre Asoka e os robôs.

Em uma versão, o deus Visvakarman ajudou Asoka a derrotá-los atirando flechas nos parafusos que mantinham as construções giratórias juntas. Em outra história, o filho do velho engenheiro que construiu os robôs explicou como desabilitar e controlar seres mecânicos.

O Robô de Da Vinci

Nascido na Itália em 1452, Leonardo da Vinci foi uma das figuras mais importantes da Renascença, dedicando-se aos estudos em diversos campos da arte e do conhecimento em uma época em que ocorriam intensas transformações que guiavam o mundo rumo à modernidade.

Foi o que se pode chamar de gênio, destacando-se como cientista, matemático, engenheiro, inventor, anatomista, pintor, escultor, arquiteto, botânico, poeta e músico.

Entre os incontáveis projetos do inventor, que vão desde o primeiro modelo de bicicleta até o paraquedas e outras máquinas voadoras, também encontra-se a incrível figura de um autômato humanoide.

O robô de Da Vinci era uma armadura de cavaleiro, com mecanismos que o permitiam se movimentar como uma pessoa de verdade e foi construída, na prática, com pesos, engrenagens e polias, a armadura simulava um cavaleiro capaz de sentar, andar, mover a cabeça e até levantar o próprio visor.

As Bonecas Japonesas

A ligação entre o Japão e os robôs é muito mais antiga do que se imagina.

Os primeiros seres automatizados construídos no país datam do Período Edo, entre os séculos 17 e 19, e serviam basicamente como entretenimento para os hóspedes, mas alguns dos modelos eram bem mais complexos e capazes até de servir chá.

A construção era uma mistura de madeira, cordas e engrenagens, em uma adaptação das invenções ocidentais para a criação dos relógios.