Além de político, historiador e grande orador, Winston Churchill entendia muito de ciência e, em um ensaio escrito meses antes do início da Segunda Guerra Mundial e que nunca chegou a ser publicado, o Primeiro Ministro britânico falava da vastidão do espaço, da existência de milhões de estrelas e seus planetas e das condições necessárias à vida.

Seu título “Estamos sozinhos no Universo?” é uma declaração de humildade humana e ao mesmo tempo mostra o grande conhecimento de Churchill sobre astronomia e astrofísica.

 

O texto, conservado pelo editor dos escritos de Churchill, Emery Reves, foi cedido ao Museu Nacional Churchill dos EUA em 1980 e desde então ficou guardado em uma gaveta, até que o diretor do museu o encontrou e mostrou a Mario Livio.

O documento de 11 páginas datilografadas “tem um estilo acessível e fácil de ler, pois foi planejado para ser publicado em um jornal”, diz o astrofísico e escritor Mario Livio, um dos poucos que puderam tê-lo nas mãos.

“Seu conhecimento sobre o assunto é muito bom, embora não seja perfeito. Ele usou um modelo relativamente antigo para a formação dos planetas e não tinha uma boa compreensão da expansão cósmica, mas os passos lógicos que dá são os que se esperam de um cientista”, analisa Livio.

Mesmo errando, Churchill demonstra estar atualizado em relação à astrofísica do seu tempo.

Sua ideia sobre a formação dos planetas, com o gás desprendido pelo encontro entre duas estrelas, era uma teoria postulada pelo astrofísico James Jeans que teve repercussão durante boa parte do século 20.

Erros à parte, o ensaio de Churchill sobre a existência de vida além da Terra é uma análise muito aguçada para os conhecimentos disponíveis na época.

Além disso, a maior parte do seu conteúdo permanece totalmente válido mesmo 80 anos depois. Assim, sua exposição parte da necessidade de água para a vida existir, e a água é uma das pistas seguidas pelos cientistas que procuram por vida extraterrestre nos dias de hoje.

Outro elemento-chave, como escreveu Churchill com acerto, era a capacidade de o planeta ter e reter sua atmosfera, o que envolve a intervenção de uma força de gravidade suficiente.

Essas ideias, junto com aquela sobre a distância do planeta em relação à sua estrela, são os aspectos fundamentais para definir o que hoje se conhece como Zona Habitável, a região em que deve estar um planeta para ter as condições necessárias para acolher a vida.

Por isso Churchill inclui apenas Marte e Vênus nessa região e descarta os outros planetas do Sistema Solar por serem muito quentes ou muito frios, e suas diferentes luas por causa da gravidade reduzida.

Pelo caminho da ciência, Churchill chegou aos exoplanetas, e apesar de não usar este termo nem o de planetas extra-solares, ele tinha claro que há milhões de estrelas no universo e afirmava com humildade: “Não sou tão vaidoso a ponto de pensar que o meu sol é o único com sua família de planetas”.

A mesma lógica o levou a pensar que muitos desses planetas deveriam estar na Zona Habitável, o que o levou a fazer a pergunta que dá título ao ensaio: “Estamos sozinhos no Universo?”.

“Parecia impossível para ele sustentar que a Terra fosse o único lugar do universo com vida”, comenta Livio, que publicou sua análise do ensaio na revista Nature.

No entanto, na hora de imaginar como seria essa vida, ele não entra em detalhes.

“Churchill se limita a acreditar que existem outras civilizações inteligentes”, acrescenta o astrofísico Mario Livio.

Mas aquele que poucos meses depois teria de liderar seu país durante a Segunda Guerra Mundial duvidava, com certa melancolia, de que “fôssemos o tipo de desenvolvimento físico e mental mais elevado que já surgiu na vasta esfera do espaço e do tempo”.